O Pontífice iniciou a homilia citando Jesus e seu
testemunho sobre uma novidade para aquele tempo. “Encontrar os pecadores
tornava a pessoa impura, assim como tocar um leproso. Por isso, os doutores da
lei se distanciavam”, comentou. Francisco observou que nunca na história, o
testemunho foi algo confortável para as testemunhas, que muitas vezes pagam com
o martírio, para os poderosos.
“Testemunhar é romper um costume, uma maneira de
ser. Romper para melhorar, para mudar. Por isso, a Igreja vai adiante para
testemunhar. O que atrai é o testemunho, não as palavras, que certamente
ajudam, mas o testemunho é o que atrai e faz a Igreja crescer. Jesus
testemunha. É algo novo, mas não muito novo, porque a misericórdia de Deus
existe desde o Antigo Testamento. Os doutores da lei nunca entenderam isso: ‘Eu
quero misericórdia e não sacrifícios’. Eles liam, mas não entendiam o
significado da misericórdia. Jesus com sua maneira de agir, proclama essa
misericórdia com o testemunho”, sublinhou o Santo Padre.
O testemunho de Jesus provocou murmuração, apontou
o Pontífice, que destacou a negativa postura dos fariseus, escribas, e doutores
da lei, que criticavam Jesus por acolher os pecadores e fazer refeição com
eles, ao invés de o verem como um homem bom, por buscar converter os pecadores.
“Um comportamento que consiste em fazer sempre um comentário negativo para
destruir o testemunho”, afirmou.
Segundo o Pontífice, o pecado da murmuração é
cotidiano, tanto no pequeno quanto no grande, e surge quando as pessoas não
gostam disso e daquilo, e, ao invés de dialogar, tentam resolver uma situação
conflituosa, murmurando escondido, sempre em voz baixa, por falta de coragem
para falar claramente.
“Assim,
acontece também nas pequenas sociedades, nas paróquias. Quanto se murmura nas
paróquias? Por muitas coisas”, disse o Papa, evidenciando que o “não gostar” de
algo ou alguém, desencadeia a falação. “Isso é feio. Quando um governo não é
honesto, procura sujar os adversários com a murmuração. Que seja difamação,
calúnia, procura sempre. Vocês conhecem bem os governos ditadores, pois viveram
isso. O que faz um governo ditador? Primeiro, toma os meios de comunicação com
uma lei e dali começa a murmurar, a menosprezar todos aqueles que são um perigo
para o governo. O murmúrio é o nosso pão cotidiano no âmbito pessoal, familiar,
paroquial, diocesano, social”.
De acordo com o Pontífice Jesus, ao invés de
condenar pela murmuração, faz uma pergunta: “Usa o mesmo método que eles usam,
ou seja, o de fazer perguntas. Eles fazem perguntas para colocar Jesus em
dificuldade, com má intenção, para fazê-lo cair: por exemplo, com uma pergunta
sobre os impostos a serem pagos ao império ou sobre repudiar a própria esposa.
Jesus usa o mesmo método, mas depois vemos a diferença. Jesus lhes diz: Se um
de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e
vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la?”.
O Santo Padre recordou que, ao invés de entenderem,
os fariseus fizeram cálculos e afirmara: “Eu tenho 99, uma se perdeu, está
chegando o pôr do sol. Começa a escurecer: ‘Deixemos pra lá aquela perdida e
entre perdas e ganhos teremos lucro. Salvemos estas'”. O Papa apontou a
resposta como uma lógica farisaica, de escolha contrária a de Jesus. .
“Eles escolhem o contrário de Jesus. Por isso, não
conversam com os pecadores, com os publicanos, não vão até eles porque: ‘É
melhor não se sujar com essa gente, é um risco. Conservemos os nossos’. Jesus é
inteligente em lhes faz essa pergunta: entra na sua casuística, mas os deixa
numa posição diferente em relação àquela justa. ‘Qual de vocês? Ninguém diz:
‘Sim, é verdade’, mas todos: ‘Não, não o farei’. Por isso, são incapazes de
perdoar, de serem misericordiosos, de receber”, explicou Francisco.
Por fim, o Papa recordou mais uma vez as três
palavras de sua reflexão: “testemunho”, que provoca e faz a Igreja crescer,
“murmuração”, que é como uma guarda interior para que o testemunho não penetre,
e “a pergunta” de Jesus. O Papa também recordou as palavras alegria e festa:
“Todos aqueles que seguem o caminho dos doutores da lei não conhecem a alegria
do Evangelho”, sublinhou o Pontífice, que concluiu com a seguinte frase: “Que o
Senhor nos faça entender essa lógica do Evangelho contrária à lógica do mundo”.
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