Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 15 de março de 2017
Boletim da Santa Sé
Tradução livre: Jéssica Marçal
Tradução livre: Jéssica Marçal
Queridos
irmãos e irmãs, bom dia!
Sabemos bem que
o grande mandamento que o Senhor Jesus nos deixou é aquele de amar: amar Deus
com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente e amar o próximo como a
nós mesmos (cfr Mt 22, 37-39), isso é, somos chamados ao amor, à caridade. E
essa é a nossa vocação mais alta, a nossa vocação por excelência; e a essa está
ligada também a alegria da esperança cristã. Quem ama tem a alegria da
esperança, de chegar a encontrar o grande amor que é o Senhor.
O apóstolo
Paulo, no trecho da Leitura aos Romanos que ouvimos há pouco, coloca-nos em
alerta: há o risco que a nossa caridade seja hipócrita, que o nosso amor seja
hipócrita. Devemos nos perguntar, então: quando acontece essa hipocrisia? E
como podemos estar seguros de que o nosso amor seja sincero, que a nossa
caridade seja autêntica? De não fingir caridade ou que o nosso amor não seja
uma telenovela: amor sincero, forte…
A hipocrisia
pode penetrar em qualquer lugar, também no nosso modo de amar. Isso se verifica
quando o nosso amor é interesseiro, movido por interesses pessoais; e quantos
amores interesseiros existem…quando os trabalhos caritativos que parece que
prestamos são realizados para colocar à mostra nós mesmos ou para sentir-se
satisfeito: “Quão bravo eu sou!” Não, isso é hipocrisia! Ou ainda quando
buscamos coisas que tenham “visibilidade” para mostrar nossa inteligência ou
nossa capacidade. Por trás de tudo isso há uma ideia falsa, enganosa, isso é,
se amamos, é porque somos bons; como se a caridade fosse uma criação do homem,
um produto do nosso coração. A caridade, em vez disso, é antes de tudo uma
graça, um presente; poder amar é um dom de Deus e devemos pedi-lo. E Ele o dará
com prazer, se nós o pedirmos. A caridade é uma graça: não consiste em fazer
transparecer aquilo que nós somos, mas aquilo que o Senhor nos dá e que nós
livremente acolhemos; e não se pode expressar no encontro com os outros se
antes não é gerada pelo encontro com a face mansa e misericordiosa de Jesus.
Paulo nos
convida a reconhecer que somos pecadores e que também o nosso modo de amar é
marcado pelo pecado. Ao mesmo tempo, porém, se faz portador de um anúncio novo,
um anúncio de esperança: o Senhor abre diante de nós um caminho de libertação,
uma via de salvação. É a possibilidade de vivermos também nós o grande mandamento
do amor, de tornarmo-nos instrumentos da caridade de Deus. E isso acontece
quando nos deixamos curar e renovar o coração por Cristo ressuscitado. O Senhor
ressuscitado que vive entre nós, que vive conosco, é capaz de curar o nosso
coração: o faz, se nós o pedimos. É Ele que nos permite, mesmo na nossa
pequenez e pobreza, experimentar a compaixão do Pai e celebrar as maravilhas do
seu amor. E se entende então que tudo aquilo que podemos viver e fazer pelos
irmãos não é outra coisa que não a resposta àquilo que Deus fez e continua
fazendo por nós. Antes, é o próprio Deus que, tomando morada no nosso coração e
na nossa vida, continua a fazer-se próximo e a servir todos aqueles que
encontramos a cada dia no nosso caminho, a começar pelos últimos e pelos mais
necessitados nos quais Ele primeiro se reconhece.
O apóstolo
Paulo, portanto, com estas palavras não quer nos repreender, em vez disso, nos
encorajar a reavivar em nós a esperança. Todos, de fato, fazemos a experiência
de não viver plenamente ou como devíamos o mandamento do amor. Mas também essa
é uma graça, porque nos faz compreender que por nós mesmos não somos capazes de
amar verdadeiramente: precisamos que o Senhor renove, continuamente, este dom
no nosso coração, através da experiência da sua infinita misericórdia. E então
sim voltaremos a apreciar as coisas pequenas, as coisas simples, cotidianas;
voltaremos a apreciar todas essas coisas pequenas de todos os dias e seremos
capazes de amar os outros como Deus os ama, querendo o bem deles, isso é, que
sejam santos, amigos de Deus; e ficaremos contentes com a possibilidade de nos
fazermos próximos a quem é pobre e humilde, como Jesus faz com cada um de nós
quando estamos distantes Dele, de nos dobrarmos aos pés dos irmãos, como Ele,
Bom Samaritano, faz com cada um de nós, com a sua compaixão e o seu perdão.
Queridos irmãos,
isso que o Apóstolo Paulo nos recordou é o segredo para ser – uso suas palavras
– é o segredo para ser “alegres na esperança” (Rm 12, 12): alegres na
esperança. A alegria da esperança, porque sabemos que em cada circunstância,
mesmo nas mais adversas, e também através dos nossos próprios fracassos, o amor
de Deus não é menor. E então, com o coração visitado e habitado pela sua graça
e pela sua fidelidade, vivamos na alegre esperança de retornar aos irmãos, por
pouco que possamos, o tanto que recebemos todos os dias Dele.
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