Entrevista para a
revista Família Cristã de Portugal (maio 2016) e para o programa de rádio
Caminho de Emaús
Pe. Valdir José De
Castro é brasileiro, jornalista, e brevemente doutor em Comunicação. Olha para
a comunicação como fator essencial das sociedades de hoje e de amanhã, e
considera que a grande mais-valia destas mensagens anuais publicadas pelo Papa
é a sua adequação à sociedade do tempo em que foram publicadas.
Celebramos os 50 anos de
mensagens do Dia Mundial das Comunicações Sociais. Que balanço é que se pode
fazer?
E celebramos
precisamente, dentro do Jubileu da Misericórdia, com uma mensagem dedicada à
Misericórdia. É muito importante para a Igreja, porque comunicar faz parte do
Ser da Igreja. Evangelizar é comunicar. Não somente com palavras, com o anúncio
do que Jesus disse ou o conteúdo do Evangelho, mas a missão da Igreja é
comunicar com a ação concreta dos seus membros a favor das pessoas
necessitadas, do homem e da mulher de hoje, da criança, do ancião, daqueles que
precisam de receber do Evangelho a força para caminhar. O Dia das Comunicações
Sociais nasceu do Vaticano II, e desde então a Igreja recorda a importância da
comunicação, sempre tendo presente um tema atual que diz respeito à época em
que vivemos.
Houve uma aproximação da
Igreja aos meios de comunicação social?
Sim. Tanto das mensagens
como no próprio discurso que a Igreja faz da comunicação, temos visto um grande
progresso. No princípio, a Igreja via os meios de comunicação de forma isolada.
A rádio, a televisão, o cinema. Até que a Igreja começou a acompanhar a
evolução dos tempos e se apercebeu de que a comunicação não é somente um
conjunto de meios técnicos, mas é uma cultura. A grande atualização da Igreja
em relação à comunicação deu-se mais ou menos no início dos anos 90, com João
Paulo II, quando ele passou a falar da cultura da comunicação. Esta não é
apenas um conjunto de meios técnicos, mas é um ambiente que influencia o modo
de ser e agir do ser humano e, ao mesmo tempo, o ser humano cria novas formas
de relações influenciado por esses meios.
De todas as que já foram
publicadas, destaca alguma mensagem, pela sua importância particular na
história da Igreja ou dos meios de comunicação social?
Se olharmos para todos
os temas destes 50 anos, vemos uma série deles que respondiam ao ano em que
eram publicados. Por exemplo, a solidariedade, o progresso, a família, a
juventude, a internet. Gostei muito do texto do Papa Bento XVI de 2011 sobre
Palavra e Silêncio. Aquele tema foi muito importante, porque falar da
comunicação do ponto de vista do silêncio é algo que o ser humano precisa de
ouvir atualmente. Sem silêncio, se não refletirmos e pararmos, a qualidade da comunicação
não melhora. Comunicar é expressarmo-nos, mas é também ouvir, fazer silêncio no
sentido de ouvir o outro e escutar. Se o ser humano não escuta, não sabe o que
dizer. E o Papa ajudou, com esse discurso, a pensar na qualidade da
comunicação, que depende também da escuta e do silêncio que fazemos para depois
sabermos o que dizer. Outro tema que me chamou a atenção foi o do ano passado,
em que o Papa falava dos meios de comunicação como ambiente privilegiado do
encontro. O tema do encontro é muito recorrente no Papa Francisco, que aqui
recordou que a comunicação desempenha um papel importante. Vivemos numa época
em que o encontro é primordial, se queremos mais paz, mais justiça e mais vida
para as pessoas. Foi um tema que marcou e que, mesmo sendo do ano passado, é
muito atual.
Estas mensagens
conseguem ajudar os cristãos a refletir sobre a comunicação?
Do ponto de vista da
intenção do Santo Padre, evidentemente que sim. É impossível uma mensagem
abranger todos os temas de um determinado tempo na História, mas eu acho que os
temas têm respondido às necessidades do seu tempo. Este ano é a misericórdia, e
esse é um tema muito atual, principalmente se olharmos para os conflitos que
existem no mundo, até no campo da religião. Há religiões que lutam entre si
quando Deus, que é único, é misericordioso, pelo que acho que os temas têm
respondido às exigências da época. Mas depende de nós, como Igreja, pegar
nestas mensagens e refletir, em grupo ou pessoalmente, e divulgá-las. Tem de
haver um eco, que depende de nós, membros da Igreja.
As pessoas compreendem
que estas mensagens são também para elas?
Penso que as próprias
mensagens, mesmo quando são particularizadas, atingem sempre toda a nossa
realidade e as diversas camadas sociais e estados de vida. Quando falamos de
crianças, ou juventude ou idosos, isso são assuntos que nos interessam a todos
nós. É importante que nós, como Igreja, abramos espaços para refletir sobre
estas mensagens. Não basta o Papa publicar e nós lermos uma notícia. As
dioceses, paróquias e movimentos têm de dar continuidade a esta reflexão, de
modo que atinja todos e todos possam usufruir ainda mais profundamente do
conteúdo da mensagem do Papa.
Alguma sugestão concreta
de fazer com que esta mensagem chegue a mais gente?
Há tantos meios atualmente,
desde os mais tradicionais às redes sociais, um terreno muito fértil de
possibilidades para divulgação destas mensagens. Com tudo isto, não somente com
os meios técnicos, mas através do encontro das pessoas nas comunidades. Sabemos
que há grupos de jovens, de casais, vários movimentos de Igreja que fazem as
suas reuniões periódicas. A Igreja tem muitos espaços que podem ser usados para
refletir estas mensagens. Outro elemento importante que ajuda a este trabalho é
ter na paróquia uma pastoral da comunicação, que não é uma equipa que trata do
som da igreja. É aquela equipa que ajuda a pensar a comunicação da Igreja e a
pensar a comunicação na sociedade. Acho que se a pastoral da comunicação se
organizar, pode ser uma grande animadora no sentido de aprofundar os conteúdos
dessas mensagens anuais.
De que forma esta
mensagem influenciou o trabalho dos padres paulistas ao longo destes 50 anos?
Essas mensagens anuais
valorizam os próprios meios de comunicação social, logo, a nossa missão. Nós,
os Paulistas, que temos a missão de evangelizar com a comunicação, vemos estes
temas como motivadores para levarmos em frente a nossa missão. Para nós, a
comunicação não é um apêndice, mas a nossa motivação. E as mensagens
motivam-nos no sentido de as divulgar nos nossos meios. Em muitos países
criamos espaços para debates sobre o tema, divulgamos nas redes sociais, e
evidentemente os temas ajudam-nos a levar em frente a nossa missão, valorizando
o ambiente que o ser humano constrói com as tecnologias que temos à disposição.
Transformar a comunicação em algo mais humano e cristão é sempre o objetivo.
O que esperar para os
próximos 50 anos de mensagens nesta área das comunicações sociais?
É difícil imaginar, mas
o que podemos dizer é que a comunicação, assim como é importante hoje, será
muito mais importante amanhã, porque faz parte do ser humano. Quando a
qualidade da comunicação é boa, a vida vai bem. Quando a comunicação entra em
crise, entra em crise o mundo das relações do ser humano e as coisas não vão
bem. Os Papas que virão irão procurar temas atuais e chamar a atenção dos
cristãos e da sociedade para eles, no contexto da comunicação. Acho que na
Igreja cresce cada vez mais a consciência da importância desses meios e isso
não vai terminar, vai crescer sempre mais, e espero que cresça em quantidade de
meios, mas também em qualidade. Internamente dentro da Igreja e da Igreja para
com a sociedade, que a Igreja possa crescer nesse sentido nos próximos anos.
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