Carta do editor – Vida Pastoral
janeiro-fevereiro de 2015
Campanha da Fraternidade: igreja e sociedade
Caros leitores
e leitoras,
Graça e paz!
A Campanha da
Fraternidade (CF) de 2015 traz como tema “Fraternidade: Igreja e sociedade” e
lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45). A escolha desse tema teve como
objetivo inserir a campanha nas comemorações do jubileu do Concílio Vaticano
II, com base nas reflexões propostas pela Constituição Dogmática Lumen
Gentiume pela Constituição Pastoral Gaudium et Spes, que tratam
da missão da Igreja no mundo. Podemos dizer que a eclesiologia e o esforço pela
renovação da Igreja perpassam não apenas esses dois, mas todos os documentos do
concílio, o qual foi eminentemente eclesiológico. A própria CF nasceu dos
esforços de renovação suscitados pelo Vaticano II. Lembramos que as primeiras
campanhas propuseram uma temática mais eclesial e depois houve uma série de
campanhas de temática social, manifestando uma compreensão da Igreja como
servidora da sociedade e da humanidade para a promoção da justiça do Reino de
Deus. Na campanha de 2015, temos a oportunidade de englobar as duas dimensões:
qual Igreja e qual sociedade queremos? Uma Igreja a serviço da sociedade que
almejamos, a sociedade desejada pelo próprio Cristo: justa, fraterna,
solidária, com vida digna e em abundância para todos.
Ao longo da história, a Igreja havia
se distanciado desses anseios nascidos do evangelho. A inspiração de João XXIII
para convocar o Vaticano II constituiu uma oportunidade de reaproximação. O
concílio foi uma volta às fontes bíblicas e patrísticas e uma busca de
superação do embate, da rejeição mútua entre Igreja e modernidade. Essa volta
às fontes permite a elaboração de uma eclesiologia de comunhão, de cunho
sacramental, que tem como ponto de partida e de chegada a Santíssima Trindade e
Cristo “luz dos povos”.
A eclesiologia do Concílio Vaticano
II suprime uma teologia fundada no direito, na hierarquia, na centralização e
no poder, para suscitar uma reflexão eclesiológica do mistério trinitário, da
Igreja dialogante com o mundo. A partir de então entraram fortemente na agenda
da Igreja as preocupações com as situações concretas vividas pelos povos: o
tema da miséria de grande parte da humanidade; os direitos humanos; as ameaças
de destruição da humanidade; a corrida armamentista; a paz; o desenvolvimento
dos povos; o acesso à cultura, à educação, aos benefícios do desenvolvimento; a
opressão; o estabelecimento da justiça entre as nações e dentro delas.
O Vaticano II e
seus documentos precisam sempre ser retomados para não serem esquecidos, mas
aprofundados. De forma semelhante à tradição do povo de Deus do Antigo
Testamento, o qual, após o êxodo, mantinha o princípio de lembrar
cotidianamente “o Deus que te tirou do Egito” e retomar essa memória sempre que
se sentia necessitado de conversão. Também, como afirmava o papa Paulo VI no
ano seguinte ao final do concílio: “Os decretos conciliares, antes de serem um
ponto de chegada, são um ponto de partida para novos objetivos. É necessário
ainda que o Espírito e o sopro renovador do concílio penetrem nas profundezas
de vida da Igreja. É necessário que os germes de vida depositados pelo concílio
no solo da Igreja cheguem a sua plena maturidade” (Oss. Rom. 26-27 out.
1966). A eclesiologia do Vaticano II não encerra o debate, mas o abre.
Continuamos então o
esforço da recepção e compreensão dos seus documentos, de sua aplicação e da
caminhada nas sendas abertas pelo concílio. Com certeza a CF e o período de
conversão quaresmal são ótimas oportunidades para isso.
Pe. Jakson Alencar,
ssp
Editor
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