Imaculada Conceição
de Nossa Senhora
Marcada
pela bondade do Pai [Lc 1,26-38]

Há alguns mal-entendidos acerca de Maria. Tem gente
que pensa que Maria era tão santa que não tinha dúvidas, crises, dificuldades.
Como se para ela tudo fosse fácil. Como se vivesse uma vida mágica. Quando
queria alguma coisa era só ‘estalar o dedo’, fazer ‘abracadabra’. E então vêm as
perguntas: “Se Maria era toda santa, sem pecado, sua vida teve algum mérito?
Foi mais fácil para ela servir a Deus do que para nós, pobres pecadores? Essas
forças negativas, desejos perversos que nos assaltam não atingiram Maria?”.
Bem. É preciso entender bem o que significa para a
Igreja quando reconhece Maria como Imaculada. Precisamos ter na conta de que
nós, cristãos, fomos marcados pela Graça salvadora de Cristo. A segunda leitura
da liturgia de hoje diz: “Antes da criação do mundo, Deus nos escolheu em
Cristo, para sermos, diante dele, santos e imaculados” [Ef 1,4]. Toda pessoa já
nasce com essa “bênção” de Deus. Significa que o Pai nos criou em Cristo para a
felicidade.
Porém, ninguém nasce pronto. A gente sabe que toda
pessoa experimenta, em maior ou menor grau, situações de desencontro desde o
seio materno: amor e desamor, acolhida e rejeição, afeto e violência. Mas a fé
nos diz que somos fruto do amor generoso do Pai e entramos num projeto de vida
e de alegria, de bondade, de acolhida. Mas experimentamos que há algo errado na
história que não nos permite realizar plenamente esse projeto do Pai. É o
“Mistério do Mal”. Está espalhado no mundo e dentro de toda pessoa. A tradição
deu-lhe o nome de “Pecado Original”.
Porém, o Filho de Deus veio trazer para a
humanidade a “Graça Original”. Ela nos recria e salva, pois é mais forte do que
o pecado original. E Maria, foi preservada desse “Pecado Original”. Ou seja, o
Pai, em atenção aos méritos da salvação trazida por Cristo, preservou sua Mãe
deste Mal. Ele quis preparar para si um seio, uma vida que não fosse
contaminada pelo mal, pelo pecado. Assim ela nasceu mais integrada do que nós,
com mais capacidade de ser livre e de acolher a proposta do Pai. Esse fato,
porém, não lhe tira o esforço de ter que peregrinar na fé, de passar por
dificuldades, de crises, como todo ser humano. Mas, diferentemente de nós,
Maria trilha um caminho sempre positivo, sem se desviar do caminho de Deus.
Esse ‘privilégio’ não faz de Maria uma pessoa orgulhosa, vaidosa, arrogante. De
jeito nenhum. Pelo contrário: livre interiormente ela tem mais condições de
desenvolver as qualidades humanas recebidas de Deus. Coloca-se mais aberta,
mais inteira ao que o Senhor quer dela. Coloca-se como serva: “Eis aqui a serva
do Senhor”. E reconhece que tudo que acontece em sua vida é dom do Pai: “O
Senhor fez em mim maravilhas”.
A solenidade de hoje nos diz que Maria foi
preservada da culpa original. Foi fiel ao projeto do Pai. Correspondeu
generosamente ao dom recebido do Pai. Também nós, pecadores, marcados pelo
egoísmo e desejo de poder, queremos corresponder ao dom da Graça batismal que
arrancou de nós as raízes do mal, mas não tirou de nós a tendência para o
pecado. Se mesmo Maria teve de se esforçar para ser fiel ao projeto amoroso do
Pai, muito mais nós devemos nos esforçar todos os dias para fazermos um caminho
de fidelidade ao Pai e ao evangelho que seu Filho nos deixou.
“Obrigado, Senhor, por nos teres dado Maria
Imaculada. Olhando para ela, sentimos a alegria de ver uma da nossa raça, humana
e limitada como nós, mas transbordante de Graça. Olha, Senhor, pela humanidade
manchada pela violência, pelo consumismo, pela pobreza, pela falta de sentido
para viver. Dá-nos a graça de integrar os nossos desejos, pulsões, tendências e
afetos. Liberta nossa liberdade. Acolhe a cada um de nós, santos e pecadores, e
faze-nos humildes servidores da Boa Nova, como Maria. Amém.”
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