segunda-feira, 13 de maio de 2013

Retiro do Mês de Maio 2013

IPVSC

RETIRO DE 11 DE MAIO DE 2013

A MISSÃO SOCIAL DA FAMÍLIA PAULINA
1. Ao traçar o memorial de sua vida e fundações, no escrito conhecido como “Abundantes divitiae gratiae suae”, o Pe. Alberione  dedica um capítulo ao “Espírito Social” (AD 58-63). Em poucas linhas resume as tendências sociais presentes na sociedade e na Igreja durante o período de sua formação e primeiros anos de ministério na diocese de Alba. Encerrando este breve capítulo condensa em poucas linhas a descrição da missão social da Família Paulina:

“Ação e oração orientaram um trabalho social cristão que tende ao saneamento de Governos, de escolas, de leis, da família, as relações entre as classes, e internacionais. Para que o Cristo, Caminho, Verdade e Vida reine no mundo. A Família Paulina tem grande tarefa e responsabilidade” (AD 63).

2. Nos primeiros anos das fundações Pe. Alberione queria de todos os sacerdotes paulinos se formassem em sociologia. Provavelmente a dominação do regime fascista na Itália contribuiu para impedir a realização deste ideal. Logo após a segunda guerra mundial e a queda do fascismo, Pe. Alberione notou quantos estragos este regime havia causado na consciência social da sociedade italiana e quis oferecer uma contribuição para renová-la mediante o livrinho “Elementos de Sociologia”, chamado depois de “Catecismo social”.

3. Quando a Família Paulina estava chegando dedicou uma série de artigos a temas importantes da vida paulina, tais como a Providência nas Famílias Paulinas (1953), a formação humana (1953), o trabalho nas Famílias Paulinas (1954), levai Deus no vosso corpo (1954) amar o Senhor com toda a mente (1954) e, para o tema que estamos considerando, sete artigos sobre a formação de uma consciência social. Todos estes artigos foram mais recentemente reunidos em um livro que tem por título Alma e corpo para o Evangelho, que brevemente vai ser publicado também no Brasil.

4. Dos artigos sobre a formação da consciência social foi compilada a breve antologia de textos aqui apresentada, que poderá ajudar a refletir sobre a missão social da Família Paulina[1].

5. Princípios

SP, novembro de 1953, p. 1

“1) Amar a Deus com toda a mente, as forças e o coração: é o primeiro e principal preceito. Mas há um segundo, que é semelhante a este: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. E Jesus nos propõe, como verdadeiro amante do próximo, um Samaritano, que não era hebreu, mas um “alienígena”.[2]

2) A educação consiste em acostumar o jovem a usar para o bem a sua liberdade; e deste uso ele prestará contas a Deus para receber o prêmio ou o castigo. A nossa vida não é destinada a ser um peso para muitos e uma festa para poucos; mas, para todos, é uma ocupação, para o próprio aperfeiçoamento e para a utilidade do próximo; por isso, a sociabilidade.

3) O homem é naturalmente ordenado por Deus a viver em sociedade. Com efeito, não poderia viver no isolamento, já que sozinho não é capaz de alcançar o seu aperfeiçoamento físico, moral e intelectual. Deus deu ao homem a inclinação a superar a sua insuficiência associando-se aos outros, seja na vida doméstica quanto na vida civil e religiosa. E este é um direito natural, que ninguém pode violar.

4) A sociedade em geral é um conjunto de indivíduos, considerados no seu grau social, unidos por um objetivo comum, a ser alcançado com a união das forças, sob o governo de uma legítima autoridade. É uma unidade orgânica (não mecânica) amadurecida pela razão e pela fé; crescida sob o governo da Providência para o bem de cada um” (p. 101).

6. Estudo da sociologia

“Hoje, mais do que nos tempos passados, é preciso um estudo suficiente da sociologia. A nossa vida se desenvolve em sua maior parte na sociedade; e é na sociedade que se deve exercer o apostolado e santificar as relações.

A sociabilidade quer uma convivência serena; mas ao mesmo tempo quer uma convivência benéfica e apostólica, também na mais ampla família humana. “Chamou-nos não só dentre os judeus, mas também dentre os pagãos” (Rm 9,24” (p. 101).
7. Dupla categoria de sociedade

“Tendo o homem que conseguir um duplo aperfeiçoamento, natural e sobrenatural, há uma dupla categoria de sociedade: sociedade de ordem | natural e sociedade de ordem sobrenatural. À primeira pertencem a sociedade doméstica, a sociedade civil etc.; à segunda: a Igreja, os Institutos religiosos etc.

Com o nascimento, o homem adquire o direito de entrar para fazer parte das sociedades naturais; com o segundo nascimento, que acontece no batismo, adquire o direito de entrar em sociedades sobrenaturais quanto ao fim e aos meios.

A Igreja é sociedade sobrenatural quanto ao fim, que é a eterna beatitude; e quanto aos meios, que são: a fé, os sacramentos, as virtudes cristãs; a obediência aos Pastores, de modo particular ao Papa” (p. 102).
8. Fundamento natural

“Quem quer entrar no Instituto deve ter um caráter sociável. Acima[3] já foi dito que “a vida comunitária supõe:

– um caráter doce, sociável, otimista: em parte por natureza, em parte por educação;

– uma mente larga, cuidadosa, compreensiva, inclinada a interpretar favoravelmente;

– uma disposição reta pelos pobres, pelos sofredores, pelos superiores, pelos inferiores;

– a observância das regras de cortesia, boas maneiras, submissão, gentileza; em todo lugar, mas especialmente estando em companhia;

– a disposição para perdoar os erros e os males e para lembrar os benefícios recebidos; sem escancarar culpas, humilhar o inferior etc.;

– ser sempre iguais e simples, sem orgulho na sorte e na honra; mas sem abatimento nas contradições” (pp. 103-104)
9. Fundamento sobrenatural
“A sociabilidade, como toda verdadeira virtude e toda verdadeira piedade, fundamenta-se sobre a fé.

Pela fé vemos, em todos os homens, filhos de Deus e Irmãos no “Pai-nosso”.

Pela fé vemos, em todos, almas às quais somos devedores de verdade, de edificação, de oração.

Pela fé vemos como Jesus Cristo amou todos, ainda mais os necessitados, os pecadores, os sofredores. Ele não fez distinção de caráter puramente humano; mas só de caráter humano-divino.

Pela fé teremos um nacionalismo justo, veremos sempre na nação particularmente as almas e a sua salvação; nunca um nacionalismo de inspiração contrária ao Evangelho, e de caráter político ou econômico. Espera-se que tudo seja conforme às doutrinas pontifícias: leis, ensinamento, moral, prática da religião.

Pela fé veremos nos membros do Instituto Irmãos, tornados tais pelo título novo da profissão.

Pela fé os homens são vistos como companheiros de viagem rumo à eternidade, disso decorrendo os deveres de mútua ajuda.

Pela fé se compreendem: o Coração do Divino Mestre, que prega e chama todos os homens a si: “Vinde todos a mim”;[4] São Paulo “doutor dos gentios”,[5] que em seu dilatado coração levava todos os homens; a Regina Apostolorum que [é] guia para todos os filhos do Pai Celeste, missionários, pregadores, apóstolos” (pp. 104-105).
10. Ut unum sint

“A caridade[6] na Igreja regula a sua ação social.

A caridade é o princípio, o movente, o elemento determinante dos Cânones e de toda disposição emanada pela Igreja e por qualquer autoridade eclesiástica e religiosa. Porque Pedro amou “mais do que estes” [Jo 21,15] é que recebeu o encargo de governar e dispor para toda a Igreja. E na Igreja não há poder a não ser o de Jesus Cristo, exercido pelo seu Vigário na terra.

Assim a caridade conduz a uma interpretação reta daquilo que é prescrito; e igualmente a caridade conduz à execução santa, envolvendo todo o nosso ser: mente forças e coração.

As nossas Congregações são bem distintas em seus fins e em seus meios; sempre há, no entanto, um terreno de confim que não pode ser especificado em milímetros, precisamente porque todas as quatro servem e operam na Igreja e para a Igreja.

A caridade, portanto, supra aquilo que as Constituições não podem especificar. [...]Encontrar-se, ouvir-se, considerar-se mutuamente, além da reta intenção, serão modos de entendimento, de paz, de maior fruto.

Foi um bom pároco da região de Alba que deu de presente à San Paolo[7] o nosso segundo cálice; disse, ofertando-o: “Observa o que mandei gravar na base: Ut unum sint; são as palavras do Mestre Divino, e será sempre esta união entre vós que permitirá o desenvolvimento do Instituto, a paz e o fervor de cada um”. De fato, é na oração sacerdotal que Jesus, por quatro vezes, pediu ao Pai esta unidade primeiro entre os Apóstolos, depois dos fiéis entre si e com a Hierarquia eclesiástica:

– “Pai santo... que sejam um, como nós também somos um”.

– “...Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti, para que eles também em nós sejam um”.

– “...Que sejam um, como também nós somos um”.

– “Eu neles, e tu em mim: para que sejam perfeitos na unidade” (Jo 17,11.21.22.23)

(pp. 113-114).

10. As aspirações do mundo a uma sociedade das nações
“Se as aspirações do mundo por uma sociedade das nações, hoje ONU (Organização das Nações Unidas), se realizassem, se realizariam também os desígnios de Deus Pai e Criador, de Jesus Cristo Mestre, da Igreja católica, de São Paulo Apóstolo: “Venha o teu reino”; um o Mestre, uma a escola, um o ensinamento, um o fruto a ser amadurecido. Por isso foi composto o livrinho “Principi di Sociologia”,[8] que deve ser estudado em todas as nossas casas, como se estuda o catecismo da classe superior.

Superadas por Jesus Cristo as barreiras de um nacionalismo religioso-civil do povo hebreu, que tinha uma missão especial e limitada, Cristo mesmo intimou: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” [cf. Mc 16,15]. O Pai Celeste disse ao seu Filho: “Te darei em possesso as nações” [Sl 2,8], todas as nações do mundo; e a Igreja, seu Corpo místico, teve uma herança universal, com um direito e um dever em relação a toda a humanidade. E São Paulo mostrou esse direito e esse dever; e o Concílio de Jerusalém, com homens fortes que nunca mais haverá, isto é, os genuínos, os diretos representantes do pensamento de Jesus Cristo, os Apóstolos: foi o Concílio da universalidade. Os paulinos devem recolher esta preciosíssima herança do seu Pai, Mestre e Doutor: coração, aspirações, apostolado sem confins.

As sociedades particulares e cada uma das nações são torrentes de um grande rio que é a humanidade; o Evangelho não é só sobrenatural, mas é supranacional; este não tem a limitação que se fecha com a vinda da plenitude dos tempos, mas tem por único confim o epílogo da história e da eternidade. “Portanto, não há diferença entre Judeu e Grego: todos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam” (Rm 10,12).

Pensamento, sentimento, aspiração de um verdadeiro paulino refletem esta sobrenaturalidade e supratemporalidade (sit venia verbis):[9] não ao restrito ambiente familiar, diocesano, ou ao terreno onde está estabelecida a hierarquia eclesiástica, bem como aos já conquistados a Cristo. Adiante! Sempre mais adiante! Tendo por base o fundamento dos Apóstolos, e a mesma pedra angular Cristo Jesus, o salto será seguro. Medir a altura e a profundidade, o comprimento e a largura da missão.

A Santa Missa é a oração da universalidade e da unidade ao mesmo tempo; é a oração coletiva e social. A unidade se forma em Cristo: uma a fé, uma a vida, uma a graça, um o rebanho, um o Pastor, um o Paraíso. O vinho que é consagrado é fruto de muitos bagos, e o pão que é transubstanciado é fruto de muitos grãos. Todos juntos oferecemos, “per ipsum et cum ipso e in ipso”[10] por meio do celebrante, o sacrifício da cruz. Cada manhã, mesmo espalhados por tantos pontos da terra, estamos unidos na mesma ação, a maior: um o Sacerdote, uma a vítima, idênticos os frutos; um o viático para a jornada, do qual cada um pode se servir: “Para que não desfaleçam pelo caminho” [cf. Mt 15,32]. A universalidade: a Igreja, antes de cumprir-se a ação sacrifical, recolhe espiritualmente ao redor do altar a multidão dos homens: “Todos os circunstantes”, e convoca o paraíso todo: “em comunhão...”.[11] É a imolação do Cristo mediador; nele se unem céu e terra; nele vivem todos os membros do corpo místico. Ouvir a Missa com consciência social é transformá-la no mais vivo apostolado.

A sociabilidade é, portanto, virtude de todos e para com todos. Esta é particularmente necessária a quem vive em comunidade; mas possui também um campo larguíssimo, tão largo quanto o nosso apostolado, tão largo quanto a nação, tão largo quanto estendida é a Igreja, tão largo quanto numerosa é a humanidade, hoje calculada em dois bilhões e meio de homens.[12] (pp. 118-120)

Anotações de Pe. Antonio F. da Silva, ssp
 

[1] Os textos são tomados do livro de próxima publicação: T. Alberione, Alma e corpo para o Evangelho.
[2] Alienígena: literalmente, gerado em outro lugar, estrangeiro.
[3] Cf. Formazione umana, n. 4, p. 123.
[4] No original: “Venite ad me omnes” (Mt 11,28).
[5] No original: “Doctor gentium” (1Tm 2,7).
[6] Este texto (até o título “Relações na nação”) foi acrescentado no livrinho Alle Famiglie Paoline.
[7] “San Paolo”, aqui, está para “Pia Sociedade São Paulo”.
[8] Trata-se do livro já citado: Elementi di Sociologia (1950) ou Catechismo sociale (1985).
[9] Dito atual: com o perdão da expressão.
[10] Versão CNBB da epíclese eucarística: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”.
[11] Referência ao Cânone romano, no “Memento” dos vivos: “Em comunhão com toda a Igreja...”.
[12] Esta cifra se refere a novembro de 1953, hoje mais do que duplicada.

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