IVSC - RETIRO DE 13 DE ABRIL DE 2013
DIRETRIZES GERAIS DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA NO BRASIL
DIRETRIZES GERAIS DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA NO BRASIL
(2011-2015 CNBB)
Conscientes de que a Igreja existe para evangelizar, a 44ª Assembléia dos Bispos do Brasil aprovou as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil.
No cenário desafiador dos nossos dias precisamos encontrar meios que atendam às urgências das Igrejas particulares que são 5:
1. Igreja permanentemente missionária;
2. Lugar da iniciação cristã;
3. Local da pastoral e da animação bíblica;
4. Casa mãe das comunidades;
5. Igreja a serviço da vida plena para todos.
Aqui está enquadrado o cerne do mandato de Jesus Cristo: “ide por todo mundo, e anunciai a Boa Nova a toda a criatura” (Mc 16,15).
A realização destes planos é tarefa das Comissões Pastorais e das Igrejas Particulares com suas paróquias e seus agentes de pastoral, encabeçados pelos Bispos.
Iluminada pela Conferência de Aparecida, e celebrando os 50 anos do Concílio Vaticano II, a Igreja no Brasil louva e agradece ao Deus da vida, do Amor e da Paz, por poder planejar a ação evangelizadora, e luta pela superação de uma ideia de fé que se limite a um conjunto de práticas fragmentadas e descompromissadas com o irmão, a sociedade e a Igreja.
Capítulo I - PARTIR DE CRISTO
Jesus é o centro e origem de toda ação da Igreja. Antes de qualquer planejamento, precisamos nos colocar diante do Mestre em adoração e contemplação, serviço e caridade, e respondermos a nós mesmos: quem é Jesus Cristo? (cf. Mc 27,29). O que há que nos impele a segui-lo, a arder nosso coração (cf. Lc 24,32), a deixar tudo (cf. Lc 5,8-11), a afirmar em amor incondicional a Ele (cf. Jo 21,9-17), a nos arrependermos de nossos pecados? (cf. Lc 24,47 At 2,36ss).
Reconhecemos de fato que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida?
E nós, como Família Paulina, estamos assumindo e vivendo esse Cristo total? Jesus espera uma resposta de cada ser humano frente ao seu amor e entrega plenos. Essa resposta manifesta-se na gratuidade e na alteridade do discípulo. A alteridade é tudo aquilo que se refere ao outro, reconhecer as diferenças, mas sem se afastar. É buscar diálogo, partilha solidariedade. A gratuidade é dar sem exigir nada em troca, é construir o mundo sem a mentalidade do lucro. É amar o próximo querendo seu bem.
Gratuidade e alteridade se concretizam no “sair de si”, num compromisso fiel de plantar o amor, ciente de que o Reino de Deus é construído por cada um de nós.
O discípulo, contudo, não é capaz de operar tudo isso sozinho. Ele o faz em comunidade, na Igreja, onde acolhe a Palavra, celebra os sacramentos, testemunha a graça, e sai em missão. Ele será sempre um irmão entre irmãos.
Num mundo onde o hedonismo, o materialismo e o relativismo são posturas generalizadas, surgem religiões que propõem um encontro com Deus sem comprometimento com o próximo. O verdadeiro discípulo missionário sabe que não há caminho para Deus se não houver amor (cf. 1Jo 4,20-21).
Capítulo II - MARCAS DE NOSSO TEMPO
O agir humano está desestabilizado pelas profundas mudanças que estão em curso em nossos dias. Tudo aquilo que norteava a conduta hoje se mostra insuficiente para responder às questões humanas. Se por um lado vemos pessoas sem estrutura sólida serem bombardeadas pelas múltiplas opções de atitudes ambíguas, por outro lado temos também fundamentalistas que não consideram outros aspectos, e não acolhem a diversidade da realidade atual. Destes dois contextos brota uma intolerância com relação à Igreja e a verdade do Evangelho. Surge ao mesmo tempo a irracionalidade de uma cultura midiática, um amoralismo generalizado, um projeto de nação que desconsidera as necessidades e anseios do povo.
Os critérios das leis de mercado que buscam o lucro e o consumismo regulam também as relações humanas. Surgem as propostas de felicidade fácil e rápida que atropelam o bem comum e a solidariedade. Assim os pobres são considerados supérfluos e descartáveis. Todo o equilíbrio entre povos e nações fica comprometido porque não é regido pelo amor. Enfrentamos uma crise generalizada:
- no Estado que precisa recuperar o valor ético para enfrentar a corrupção, a violência, o narcotráfico etc;
- na banalização da vida onde acontecem os abortos, a manipulação de embriões etc;
- na ausência de condições mínimas de vida, de saúde, trabalho, moradia, educação.
Numa busca de uma vivência de fé que privilegia o emocionalismo e a busca de uma satisfação própria, exclui-se a salvação em Cristo que acontece na escuta do Evangelho e na disposição de servir. Tem-se a ilusão de que Deus está a serviço das pessoas. Daí surge o perigo do culto a si mesmo.
Capítulo III - AS URGÊNCIAS NA AÇÃO EVANGELIZADORA
1. Igreja em estado permanente de missão
A Igreja é indispensavelmente missionária. Ignorar este fato é fechar-se à ação do Espírito Santo. É urgente que se reconheça que o distanciamento com relação a Jesus Cristo e ao Reino traz consequências para toda a humanidade. Isso fica claro não só na redução numérica de católicos, mas no desrespeito e destruição da vida, na violência, na exclusão, que são ameaças à vida.
Agora é tempo de testemunho. Os discípulos missionários, em meio à turbulência da época do desvalor, são chamados, mais do que nunca, a viverem o Evangelho na sua radicalidade, em contraposição ao descompromisso generalizado. É tempo de criar uma consciência missionária que perpasse todas as pastorais. Tudo o que é feito na Igreja deve ter caráter missionário. Aqui nos encontramos com a pertinência de nossa vocação paulina que nos exorta a ser “sal da terra” e “luz do mundo”.
2. Igreja: casa da iniciação à vida cristã
A fé é um dom de Deus! Não se crê porque se quer, mas por um encontro com um acontecimento ou uma pessoa: Jesus Cristo. Esse encontro sempre é mediado pela ação da Igreja.
Responder a esse chamado de Cristo implica anúncio, apresentação, proclamação. Em tempos idos, esse anúncio acontecia através da família, da escola e da sociedade em geral. Hoje a família não tem mais o fôlego que tinha para ser o berço da iniciação cristã. Que bela opção encontramos no ISF, que propõe a santidade aos casais por meio da vida consagrada secular, formando catequistas em potencial, tanto dentro do lar, como na Igreja, na vida social e profissional.
Necessitamos de um processo de iniciação cristã que cative e conduza a um encontro pessoal com Jesus Cristo. Há a urgência de efetuar esta iniciação não apenas uma vez, mas sempre, porque a vida é dinâmica e em suas várias etapas é passível de encontrar na fé suas verdadeiras respostas.
Isso requer comunidades num processo permanente de iniciação, ou seja, preparadas para as exigências evangelizadoras: acolhida, diálogo, partilha, familiarização com a Palavra de Deus, e vida em comunidade.
3. Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral
Estamos numa época de muito ruído, muitas falas, muito barulho, incertezas e crise de referências. Necessitamos da palavra que guia, tranquiliza, impulsiona e ajuda a discernir. Os jovens, em especial, estão submersos neste excesso de informações. A resposta para tanta inquietação e desnorteio é a Palavra, que permite encontrar o eixo da história: Cristo.
Neste encontro com a Palavra de Deus, o discípulo missionário se abre para ouvir a Deus, e não para determinar algo. Quanta paz há nesta experiência que pode acontecer em qualquer hora e lugar, mas que acontece privilegiadamente na Igreja, nas celebrações.
4. Igreja a serviço da vida plena para todos
O discípulo missionário é um defensor da vida por excelência. A vida, desde a sua concepção até o seu ocaso natural, é um dom de Deus que deve ser defendido e protegido contra a exclusão e o desrespeito. Em detrimento à cultura do bem estar individual, da ganância e do culto ao corpo. A Igreja quer formar discípulos comprometidos com o amor serviço, que sai de si em favor do bem de todos. Aqui também se inclui a vida do planeta, dilapidada tanto ética como ecologicamente pelo uso ganancioso e irresponsável.
Capítulo IV - PERSPECTIVAS DE AÇÃO
1. Igreja em estado permanente de missão
Vendo a comunidade cristã reunida no amor e em oração, as pessoas dirão: “Verdadeiramente, Deus está entre vós” (cf. 1Cor 14,25).
Neste sentido, quais são os grupos que merecem maior atenção no serviço da evangelização? Às vezes os jovens, ou pessoas vivendo na periferia da cidade, intelectuais, artistas, políticos, formadores de opinião, nômades etc.
As missões populares tem se mostrado um caminho eficaz nestas tarefas.
No caso dos jovens, as JMJs são uma oportunidade de animá-los em vista de sua identidade de discípulos missionários, combatendo o uso das drogas, da violência, do extermínio e de tantas outras questões que afligem a juventude.
Outro desafio é o ecumenismo, a unidade entre irmãos que crêem em Cristo. São necessários atos concretos que sacudam as consciências.
2. Igreja: casa da iniciação à vida cristã
Hoje na Igreja é necessária uma inspiração catecumenal que efetive uma iniciação cristã mediante uma catequese em caráter permanente, ou seja, inicia-se com as crianças na preparação à primeira Eucaristia e se estende permanentemente. Essa catequese também é aplicada a jovens, adultos e idosos que não tiveram uma preparação adequada na infância.
Essa iniciação deve conduzir a um encontro pessoal com Cristo. É importante reconhecer que o Espírito Santo age e promove o encontro, embora seja mediado por pessoas. Por isso é necessário dar grande ênfase às relações interpessoais solidárias, fraternas e repletas de acolhimento. Aqui cabe lembrar quão necessária se faz a presença dos consagrados seculares nesta tarefa de abraçar a missão da Igreja como projeto de vida cristã permanente.
m3. Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral
Todo o serviço de Igreja deve ser iluminado e alimentado pela Palavra de Deus.
É, portanto, fundamental desenvolver a animação bíblica na forma de retiros (quantos retiros já tivemos sempre embasados na Palavra), cursos e encontros, subsídios para a leitura individual (Gabrielinos, Anunciatinas, Instituto Jesus Sacerdote) e familiar (Instituto Santa Família), e pequenos grupos da Palavra de Deus.
A internet também é um areópago virtual onde a Palavra de Deus deve ser difundida. Pensemos em nossa vocação de evangelizar através dos meios de comunicação social, quantas oportunidades com as mídias atuais.
É necessária também uma contínua formação para os ministros da Palavra de forma que as leituras sejam bem feitas tanto técnica como litúrgica e bíblica, com esmero e zelo. A homilia também merece destaque proporcionando aos ouvintes maior aproximação com a Palavra.
4. Igreja: comunidade de comunidades
As paróquias são as células vivas da comunidade, lugar privilegiado onde a maioria dos fiéis faz sua experiência concreta de Cristo. Por isso devem estar sempre se reformulando para proporcionar também aos fiéis a experiência de discípulos missionários.
Para uma Igreja comunidade de comunidades todos devem participar nos destinos da comunidade, cada qual no seu carisma e serviço. Para isso é necessário desenvolver:
a - diversidade ministerial – os pastores devem dar espaço aos leigos para que, assumindo responsabilidades na paróquia, sintam-se comprometidos como cristãos;
b - o carisma da vida consagrada, em suas dimensões apostólicas e contemplativas, comprometidas a evangelizar por sua vida e missão;
c - o funcionamento de comissões, assembléias pastorais e conselhos, tanto no âmbito pastoral como no administrativo-econômico, para suscitar nos outros membros da paróquia a consciência da participação de todos;
d - articulação das ações evangelizadoras, para evitar divisões entre os grupos e comprometer a todos nas tomadas de decisão da paróquia.
5. Igreja a serviço da vida plena para todos
É missão da Igreja defender, cuidar e proteger a vida em todas as suas formas e expressões.
Neste âmbito recebe particular atenção a família, eixo transversal da ação evangelizadora da Igreja, porque é o lugar por excelência da iniciação cristã, da realização humana, da santificação pelo exercício da maternidade, paternidade e filiação, e escola de convívio humano. A pastoral familiar deve, portanto, ser intensa, vigorosa e frutuosa.
Crianças e adolescentes precisam ser alvo de maior atenção pelas comunidades eclesiais por conta de sua vulnerabilidade nos quesitos de: abandono, perigo de drogas, de violência doméstica, da venda de armas, de abuso sexual, bem como da falta de expectativas para o futuro.
Atenção especial merece também os migrantes que necessitam de apoio religioso para poderem enfrentar os perigos de tráfico de pessoas, condições de trabalho que beiram a escravidão, o abuso sexual, e outros.
Há que se combater os preconceitos com etnias, culturas e expressões religiosas.
Vale ressaltar a preservação da natureza e a defesa da vida, nas favelas, cárceres, e onde a sua dignidade for ameaçada.
Cabe aqui lembrar os areópagos universitários, garantindo a presença da Igreja na cultura contemporânea.
Capítulo V – INDICAÇÕES DE OPERACIONALIZAÇÃO
Se não houver um plano de ação concreta através de um plano diocesano de pastoral, as diretrizes para a evangelização correm riscos de inoperância.
1. O plano como fruto de um processo de planejamento
É fundamental pensar a ação antes, durante e depois dela. Para isso é preciso buscar auxílio junto aos esquemas das instituições públicas e privadas que funcionam com planejamento e logística de operação.
Nesse sentido é preciso sensibilizar toda a paróquia para que se sinta motivada a participar do plano pastoral, bem como de lideranças que se disponibilizem a tomar decisões.
2. Passos metodológicos
Para que o planejamento leve a uma ação eficaz, é recomendável que o mesmo seja desenvolvido em pelo menos sete etapas ou passos:
1º passo - onde estamos
Aqui começa um processo de autoconhecimento das condições e necessidades de evangelização que se quer operar. Qual a situação eclesial atual, qual a experiência religiosa tanto dos agentes quanto dos objetos da evangelização? São questões que precisam de uma resposta.
2º passo - onde precisamos entrar
Partimos de Cristo e de seu Evangelho para entrarmos na precariedade da realidade histórica em que estamos inseridos.
Para se fazer missão, segundo as Diretrizes da Ação Evangelizadora no Brasil, o discípulo missionário tem um tríplice múnus (missão)
a) Serviço da Palavra – É através da proclamação da Palavra (querigma), que se pode ter um encontro pessoal com Jesus, e que é decisiva para o cristão, possibilitando a ação do Espírito Santo.
b) Serviço da Liturgia – É na liturgia que tende a ação da Igreja, segundo o Concílio Vaticano II, e de onde provém toda a sua força. Nela o discípulo realiza o seu mais íntimo encontro com o Senhor e recebe a força de sair em missão.
c) Serviço da Caridade – É a concretização das premissas anteriores, é o crescimento da comunhão fraterna entre aqueles que acolheram o Evangelho, em especial privilegiando os mais pobres.
Esse múnus acontece em três âmbitos:
1. O da pessoa – É na singularidade da pessoa que adere a Jesus Cristo e o seu Evangelho que acontece a ação evangelizadora. Ela é o objeto do anúncio. Por isso devem-se respeitar suas características, diversidades e dignidade.
2. O da comunidade - É na comunidade eclesial que se realiza esta experiência de vida fraterna que se fortalece e é capaz de realizar o desafio de mudar o mundo.
3. O da sociedade – É na sociedade que a Igreja atua como sinal de amor e solidariedade com as pessoas. A Igreja tem compromisso de atuar na sociedade como quem serve, imitando Aquele que se fez serviço por todos.
3º passo - nossas urgências pastorais
Cada Igreja Particular busque averiguar em que medida as urgências pastorais (estado permanente de missão; casa da iniciação cristã; lugar de animação bíblica e pastoral; comunidade de comunidades; serviço da vida plena para todos) são desafios reais de seu contexto.
4º passo - o que queremos alcançar
Espírito de busca de uma vivência cada vez maior da comunhão entre as Igrejas Particulares e a efetivação dos planos das Diretrizes Gerais da Evangelização no Brasil.
5º passo – como vamos agir
Serviço, diálogo, anúncio e testemunho da comunhão.
6º passo – o que vamos fazer
“O que não é assumido não é redimido”, disse Santo Irineu de Lião. Partir para a prática, a execução dos programas.
7º passo - renovação das estruturas
“Vinho novo em odres novos” (Mt 9,17). Se há mudanças nas ações devem-se mudar também as estruturas que lhes dão suporte.
Conclusão – COMPROMISSO DE UNIDADE NA MISSÃO
Através das Diretrizes da Ação Evangelizadora do Brasil busca-se responder aos apelos do Concílio Vaticano II, em um movimento de unidade das Igrejas Particulares, de forma a vencer os desafios evangelizadores do século XXI. Iluminada pela Palavra, sustentada pela Eucaristia, animada pela caridade de Cristo, precisamos ser a encarnação do Reino de Deus hoje.
Que Maria, a Estrela da evangelização, mulher dócil, simples e obediente à vontade de Deus, nos guie e interceda por nós para que sejamos verdadeiros discípulos missionários de Jesus.
Documento da CNBB resumido por Malú e Eduardo - ISF
Documento da CNBB resumido por Malú e Eduardo - ISF.
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